Você prega, Deus realiza. Desça do púlpito vitorioso!
Por: Marcos Tuler
Dirigi-me à empresa na certeza de que teria mais uma produtiva e abençoada jornada de trabalho. Antes de chegar à minha sala, avistei um amigo, funcionário da gerência de jornalismo. Ao perceber que ele também havia me visto, detive-me por alguns instantes no corredor de acesso às demais gerências no intuito de cumprimentá-lo. (Permitam-me, por questões éticas, não lhe declinar o nome.)
Antes que eu pronunciasse a primeira palavra, o insigne jornalista desarticulou-me, e pôs-se a falar de modo esfuziante: “Irmão Marcos, preciso contar-lhe uma experiência que tive com Deus!” “Lembra-se do dia que o senhor pregou sobre o amor ao próximo?” “Sim, respondi interessado.” “Pois então, sábado pela manhã, o Espírito Santo me fez lembrar daquela mensagem.” Pôs-se a contar didaticamente seu piedoso testemunho.
“Deus decidira, por bondade e misericórdia, agraciar-nos com a bênção da casa própria. Nossa nova residência, embora sem pompas e aparatos, preenchera confortavelmente nossa modesta expectativa de moradia. O Senhor atendera graciosamente nossas orações!”
“Eu e minha esposa ficamos tão felizes com a nova aquisição que mal podíamos esperar o dia da mudança. Afinal, além de nos livrarmos das despesas do aluguel, passamos a morar definitivamente no que é nosso: aquele apartamento representa o fruto dos nossos esforços.”
“Enfim, chegou o esperado dia da mudança. Havia chovido a semana inteira e provavelmente continuaria no sábado. Oramos insistentemente ao Senhor pedindo que não chovesse pelo menos em nossa cidade, pois o carro que havíamos conseguido para o transporte dos móveis era uma pick-up de carroceria aberta, e em função disso, temíamos que nossos pertences fossem avariados pela chuva.”
“O dia avançava veloz. Continuamos orando fervorosamente, mas parecia não adiantar! A chuva caia insistente e copiosamente na contramão de nossos anseios e petições.” “Depois de certo tempo, quando a angústia e o desânimo pareciam descontrolar-nos (enfatizou o jornalista fitando-me nos olhos), o Espírito Santo fez-me lembrar de parte da mensagem em que o senhor dizia que devemos querer para o próximo todo bem que desejamos para nós mesmos. A palavra de Deus citada pelo irmão naquela ocasião, ainda ecoava doce e sonoramente em meus ouvidos: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mc 12.30). “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós. E nós devemos dar a nossa vida pelos irmãos (1 Jo 3.16). Naquele instante, parecia ouvi-lo nitidamente repetir: ‘se desejamos uma boa escola para os nossos filhos devemos esperar que os filhos dos nossos irmãos e vizinhos também consigam uma boa escola.’ ‘Se almejamos uma boa casa ou um carro do último tipo, também devemos desejar essas coisas para o nosso próximo.’
Quando estas lembranças me vieram à mente, pude compreender que estávamos orando de forma errada. Imediatamente mudamos nossa oração e começamos pedir a Deus que ajudasse as outras pessoas que porventura estivessem passando pelo mesmo problema que nós, ou quem sabe, até pior, em razão da chuva ou da falta dela. De repente percebi que estava orando cada vez mais intensamente por aquelas possíveis pessoas. Tão intensamente, que me esqueci do meu próprio problema. Foi quando minha esposa me disse: ‘Filho, a chuva já passou!’
Daquele momento em diante não choveu mais uma gota!
É possível que meu leitor ainda não esteja entendendo o motivo pelo qual estou narrando este testemunho. Quando comecei escrever este artigo intentava discorrer sobre o tema “amor ao próximo”, porém, em dado momento, o Espirito Santo direcionou-me ao grande dilema de boa parte dos pregadores: estar ou não sendo usado por Deus no momento da entrega da mensagem.
Confesso que quando desci do púlpito na ocasião em que preguei sobre o amor ao próximo, não tinha ideia de como essa mensagem surtiria efeito nas pessoas que me ouviam.
O fato é que, quase nunca prevemos o alcance ou avaliamos os efeitos de nossas mensagens sobre os ouvintes. Às vezes nos empolgamos quando nossas prédicas, carregadas com as pompas da retórica, arrebatam do auditório calorosos elogios e congratulações. Entretanto, quando nos falta o aparente brilho, desejamos que o chão se abra e sorva celeremente nossa vergonha e decepção. Por que nos ocorre esta desagradável experiência? Por que agimos assim? Infelizmente, mesmo sem nos dar conta, ao descermos do púlpito, costumamos ajuizar as operações de Deus pelo que é aparente, ou seja, pelas visíveis reações e manifestações da audiência. Esquecemo-nos que Deus trabalha e realiza como e quando quer, independente das nossas medíocres expectativas.
É aí que, no final de cada mensagem, conjecturamos: Será que hoje Deus me usou como instrumento de sua operação? Será que o Todo-Poderoso tocou em alguém profundamente por intermédio da minha pregação? Seu poder transformador emanou através de mim sem que eu percebesse?
Nossa missão é pregar. Não temos compromisso com os resultados. Os santos oráculos emanam do Eterno; Ele mesmo encarregar-se-á de torná-los realidade na execução da sua vontade. A Palavra pregada legitimamente independe da nossa frágil competência. Ninguém impedirá seu curso: como um manancial de águas inexaurível, ela fluirá caudalosamente, rumo ao cumprimento do arbítrio e desígnio do Altíssimo: “Assim será a palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a enviei” (Is 55.11).
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